Nos últimos anos, o esgotamento profissional, também conhecido como burnout, tornou-se uma das maiores preocupações no mundo do trabalho. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que o fenômeno atinge proporções alarmantes, com um agravante: as mulheres são as mais afetadas. Mas por que isso acontece? A resposta não está em um único fator, mas em uma complexa rede de pressões sociais, desigualdades estruturais e expectativas culturais que recaem sobre as mulheres de maneira desproporcional.
Um estudo realizado pela Gallup em 2023 mostrou que as mulheres têm 23% mais chances de relatar sintomas de burnout do que os homens. Quando analisamos os motivos, a dupla jornada aparece como um dos principais vilões. Mesmo com avanços na divisão de tarefas domésticas, pesquisas do IBGE indicam que as brasileiras ainda dedicam, em média, 10 horas semanais a mais que os homens aos afazeres do lar e ao cuidado dos filhos. Isso significa que, mesmo após um dia exaustivo no trabalho, muitas mulheres enfrentam uma segunda carga mental e física em casa, sem o mesmo nível de apoio que seus parceiros costumam receber.
Além disso, o ambiente corporativo ainda é permeado por desafios específicos para as mulheres. Um relatório da McKinsey & Company apontou que, para cada 100 homens promovidos a cargos de liderança, apenas 87 mulheres alcançam posições equivalentes. Essa disparidade cria um cenário em que as profissionais precisam constantemente provar seu valor, enfrentando microagressões, questionamentos sobre sua competência e, muitas vezes, a sensação de invisibilidade. O acúmulo dessas tensões contribui para um estado crônico de estresse, que pode evoluir para o esgotamento.
Outro fator crítico é a pressão por desempenho perfeito em todas as esferas da vida. Enquanto os homens são socialmente permitidos a falhar ou delegar, as mulheres ainda carregam o peso da expectativa de serem excelentes profissionais, mães dedicadas, parceiras presentes e cuidadoras impecáveis. Esse “ideal inatingível” é reforçado por padrões culturais e, muitas vezes, internalizado desde a infância. Uma pesquisa publicada no Journal of Applied Psychology mostrou que mulheres em posições de liderança relatam níveis significativamente mais altos de autocobrança e medo de julgamento, fatores que aceleram a exaustão emocional.
A saúde mental também entra nessa equação. Dados da OMS indicam que mulheres são duas vezes mais propensas a desenvolver ansiedade e depressão, condições que podem ser agravadas pelo acúmulo de funções e pela falta de reconhecimento no trabalho. Quando somamos isso à cultura de presentismo — em que muitas se sentem obrigadas a trabalhar mesmo doentes para não serem vistas como “fracas” —, temos um cenário perfeito para o colapso físico e psicológico.
Mas como reverter essa situação? Empresas que investem em políticas de equidade de gênero, licenças parentais estendidas para homens e mulheres, e programas de mentoria para lideranças femininas têm demonstrado resultados positivos. No entanto, a mudança precisa ser mais profunda: envolve repensar a distribuição de tarefas domésticas, desafiar estereótipos de gênero e criar ambientes de trabalho que valorizem o bem-estar, e não apenas a produtividade a qualquer custo.
Enquanto o mundo não se transforma, mulheres continuarão pagando um preço alto por tentar equilibrar o que, em muitos casos, ainda é um jogo desigual. Reconhecer esse desequilíbrio é o primeiro passo para mudá-lo — porque ninguém deveria chegar ao limite só para ser considerada “suficientemente boa”.
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